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Evite as expressões idiomáticas! 

Quase imperceptíveis, as expressões idiomáticas dominam o linguajar do nosso cotidiano: o excesso de uso talvez explique tal invisibilidade. O certo é que, diante da diversidade das informações e do pensar “online”, esses “signos encapsulados” até nos ajudam na comunicação informal, pois nem sempre podemos ser criativos em tais circunstâncias.

Porém, na atenção e na paz de uma leitura, essas expressões, aparentemente inofensivas, transformam-se em perspicazes destruidores da beleza (estilo). Vamos a um exemplo:

1. Quem pariu Mateus que o embale.

Há nessa expressão uma espécie de crítica velada. Para entendê-la, é preciso saber quem era Mateus e qual era sua profissão...

Mateus Evangelista, um coletor de impostos, foi chamado por Jesus para ser um de Seus discípulos. Após o chamado, Mateus convidou o Mestre para um banquete em sua casa, fato que desagradou à maioria das pessoas que vivia ao Seu redor; pois, na Roma antiga, os coletores de impostos eram figuras odiadas. Assim, no calor da revolta, é provável que algum dos discípulos tenha dito a tal frase: “Quem pariu Mateus que o embale”.

Moral da história: Somente a própria mãe pode amar um cobrador de impostos...


Outro exemplo:

2. Após inúmeras dificuldades no trabalho, José preferiu jogar a toalha.

No contexto, a ação de jogar a toalha está associada à desistência.

É comum, durante uma luta de boxe, os auxiliares usarem toalhas brancas para limpar o rosto e as luvas de seu pugilista. Porém, vendo seu lutador em situação desfavorável e sem forças para reagir, a equipe costuma atirar a toalha no centro do ringe: gesto indicativo para que o “juiz”, imediatamente, interrompa a luta. Mas por que a toalha? Bem, talvez por ser perigoso demais jogar no ringe outro objeto: um balde branco, por exemplo.

Moral da história: o branco da toalha simboliza um pedido de trégua, de paz...

Mas por que as expressões idiomáticas, que com frequência as chamo de “pobres metáforas”, prejudicam tanto o texto?

Grosso modo, se prestarmos atenção nesses tipos de expressões, vamos notar nelas duas claras limitações:

1. Aspecto sintático.

Trazem em sua organização (sintaxe) um elevado grau de rigidez, pois só o todo (conjunto das palavras que compõem a frase) é que faz sentido. Ou seja, a estrutura da frase não pode ser retrabalhada.

2. Aspecto semântico.

Por causa da (re-) significação do conjunto dessas palavras, há perda do sentido corrente de cada uma delas: fato que implica tanto empobrecimento de conteúdo como perda de beleza textual.

Mas o que fazer se, no momento em que redijo um rascunho, são as expressões idiomáticas que me vêm à mente, que estão presentes no fluxo de meu pensamento? Desse modo, só há uma saída: substituí-las por expressões composicionais...

Mas esse será o assunto do meu próximo artigo.

Até...

                                                             Silvio Pélico.