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O MISTERIOSO PROCESSO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA/Parte 2

A luz do verão vazava pelas persianas e calma se deitava sobre a mesa de trabalho. Minhas mãos, ao teclado, teciam o enfadonho trabalho: instalar programas — pela manhã, eu “formatara” a HD do meu computador...
De um instante, sinto a presença de Antonio Teles. As mãos trêmulas denunciam a adrenalina correndo pelas veias. Após apanhar lápis e papel, já encantada, a mão inicia o intangível ofício...
Antonio Teles morrera na madrugada de segunda-feira. Na noite de quarta-feira, sou informado das circunstâncias e do sofrimento de sua esposa, Vera Lúcia. Do vazio e da tristeza que se instalaram em seu coração, nesses dias de incompreensível ausência...
Não mais que um minuto foi o tempo que durou a inesperada visita e a feitura do poema, mas suficientes para esgotarem minhas energias: física e psicológica.
Quando voltei ao texto, na lucidez do dia seguinte, estranhei o modo como havia abordado tão complexos sentimentos (o ponto de vista era o da esposa)... Abaixo, transcrevo o misterioso poema:


À Memória de Antonio Teles
Cumprida a agonia, e agora sob o manto
da infinita misericórdia do Senhor Jesus,
descansa em paz Antonio Teles.

Longos dias se passaram...
Dias em que sua ausência se dilatou em meu coração.
Dias em que o silêncio mais se demorou em meus lábios.
Dias de lembranças...

Pela manhã, no escritório, a solitária mesa ainda espera suas ordens.
À noitinha, sobre a mesa costumeira, a perfumosa comida insiste em aguardá-lo.
Mais tarde, desejosos de seus olhos, os programas preferidos de TV erram pelo ar.

De madrugada, sobre o lado vazio da cama, a densa escuridão parece vestir-se do seu perfume...
Como nos sonhos, tudo foi tão rápido, tudo tão ligeiro...
E só uma frase persiste em minha mente.
Uma singela e sentida frase: Antonio Teles! Minha vida, meu amado...

                                                                                                     por Silvio Pélico.

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